O cuidado com idosos na Suécia, por muito tempo considerado modelo de bem-estar, atravessa uma fase delicada. Escândalos de maus-tratos, dificuldades para conseguir vaga em asilos (äldreboenden) e a crescente preocupação com a qualidade do atendimento têm levado muitas famílias a considerar uma alternativa que parecia improvável: receber seus pais idosos em casa.
O escândalo que mudou tudo
O caso mais emblemático foi o do Carema vårdhem, em Lund, que ganhou notoriedade entre 2011 e 2012 após reportagens investigativas revelarem maus-tratos sistemáticos: idosos deixados sem comida, falta de higiene, ausência de cuidados médicos e funcionários sem preparo adequado. A administração priorizava lucro em detrimento do bem-estar. O escândalo chocou o país e levou a mudanças na legislação, além de inspeções mais rigorosas.
Não foi caso isolado
O Carema abriu caminho para que outros episódios viessem à tona. Inspeções governamentais e investigações jornalísticas nos anos seguintes mostraram problemas semelhantes em outras partes da Suécia, tanto em asilos públicos quanto privados. Entre os problemas mais comuns estavam:
Ainda que a maioria das unidades opere com bons padrões, a confiança da população foi abalada. Muitos suecos passaram a questionar se realmente é seguro deixar seus pais em um asilo.
Conseguir uma vaga não é fácil
O direito ao cuidado é universal e garantido por lei. Mas, na prática, conseguir uma vaga em um äldreboende pode ser difícil e demorado. O processo funciona assim:
Essa demora faz com que muitas famílias optem por alternativas privadas, que são muito caras, ou então escolham cuidar dos pais em casa.
Quanto custa um asilo na Suécia?
Ao contrário do que muitos pensam, o custo não é o principal problema — pelo menos do ponto de vista do idoso. O valor é regulado por lei, com base na renda da pessoa e limitado pelo chamado maxtaxa (preço máximo). Em 2024, esse teto era de 2.441 coroas suecas por mês (cerca de R$ 1.300). Mesmo que o custo real para o governo seja muito mais alto, o idoso nunca paga acima desse valor. Se a renda for baixa, paga menos. O restante é coberto pelos impostos.
Portanto, o grande desafio não é o preço, mas sim a disponibilidade de vagas e a garantia de qualidade uniforme em todo o país.
A alternativa: trazer os pais para casa
Em meio a esse cenário, famílias estão escolhendo abrir espaço em seus lares. Um exemplo recente foi o de uma filha que convidou sua mãe, de quase 90 anos, para morar em sua casa em Estocolmo. O arranjo trouxe segurança e companhia para a mãe, e tranquilidade para a filha, que antes vivia em constante preocupação. É uma solução que exige ajustes — mudanças de rotina, divisão de responsabilidades e até adaptações na casa — mas que, para muitas famílias, vale a pena.
Reflexão
O envelhecimento da população sueca e a crise de confiança nos asilos colocam em pauta uma pergunta importante: quem deve cuidar dos idosos? O Estado, as empresas privadas ou as próprias famílias? A resposta talvez esteja em uma combinação de todos. Mas, enquanto o sistema tenta se adaptar, cada vez mais suecos estão olhando para dentro de casa como solução imediata.
E os brasileiros na Suécia?
Para os brasileiros, a ideia não soa tão estranha. Crescemos em famílias multigeracionais, onde avós e netos frequentemente dividem o mesmo teto. Agora, vemos suecos repensando esse modelo e descobrindo que, apesar dos desafios, pode ser uma forma de resgatar laços e oferecer cuidado digno aos mais velhos.
Guia rápido: sistema sueco de asilos
Na Suécia, o asilo é chamado de äldreboende (ou särskilt boende). Abaixo, um passo a passo simples para entender direitos, custos e alternativas.